Problema Solucionado
O Baixo Sul da Bahia, área de atuação do projeto, dentre outros aspectos, caracteriza-se por ser uma região de contrastes; as riquezas naturais e o potencial humano convivem lado a lado com a pobreza que, segundo o censo do IBGE 2010, alcança mais de 50% da população, sobretudo da zona rural, onde a maioria das pessoas vive com ganhos de até um salário mínimo. No tocante à educação, o analfabetismo no Baixo Sul é expressivo: atinge 35% da população. Quando confrontado com o universo de pessoas que não concluem o segundo grau, os números se agigantam. Apenas 12% concluíram o terceiro ano. O atraso no início dos estudos, a necessidade de ajudar as famílias, as dificuldades de acesso, a precariedade do ensino, o desinteresse dos alunos geram um quadro de defasagem idade-série, que varia de 2 a 4 anos, em média.
Com o aumento populacional e o êxodo rural, que contribuem para o enfraquecimento do processo de sucessão das famílias na agricultura, faz-se necessário buscar alternativas que promovam o desenvolvimento dessa população na atividade agrícola, com conhecimentos que permita aumentar a produção e consequentemente, melhorar a renda, fixando essas famílias no campo.
Descrição
As ações da OSCIP Casa Familiar Rural de Igrapiúna CFR-I são executadas a partir da Pedagogia da Alternância (teoria e prática), metodologia que consiste na aplicação prática do conhecimento desenvolvido no centro de formação profissional, com o acompanhamento de monitores. Alternância significa o processo de ensino-aprendizagem que acontece em espaços e territórios diferenciados e alternados.
Essa proposta visa fomentar a produção integrada e ambientalmente sustentável, partindo do jovem como multiplicador de novas tecnologias em suas unidades-família e comunidades em que vivem. Naturalmente, ao final da formação, eles atuam como agentes de desenvolvimento locais e suas ações, além de gerar riquezas tangíveis e intangíveis para eles próprios e suas famílias, estimularão a produção agrícola e a geração de trabalho e renda nas suas comunidades de origem.
Este modelo educacional, busca a interação entre o conceito e a aplicação prática, obtida a partir da implantação de Unidades Demonstrativas no centro de formação e posteriormente replicadas nas propriedades das unidades-família dos beneficiados. Atualmente, a CFR-I dispõe de uma área de 10ha, contendo três das principais culturas predominante na região (seringueira, cacau e pupunha).
Nesse processo, são privilegiados não somente a produção do conhecimento e o aprimoramento das técnicas, mas, principalmente, a vivência profissional do jovem e a consciência de que ele é o responsável por sua própria formação e pode influenciar positivamente o seu entorno.
Neste contexto, os jovens em formação passam duas semanas em suas propriedades, no seio de sua unidade-família, e uma semana na Casa Familiar Rural de Igrapiúna em tempo integral, para um ciclo de formação dentro de um planejamento anual.
Durante a semana na CFR-I, o jovem identifica as oportunidades encontradas em seu Plano de Estudo e aprofunda os conhecimentos teóricos para vencer os desafios encontrados. São discutidos temas gerais sobre o Desenvolvimento Sustentável do seu município. Além disso, a convivência com outros jovens no regime de internato possibilita o aprendizado do trabalho em equipe, o compartilhamento de experiências e tecnologias adotadas em cada comunidade/município, o cuidado com a higiene pessoal e a educação para a vida. Em cada semana, além das disciplinas da Base Nacional Comum, é abordada uma cultura diferente. Por vezes os jovens são levados à instituições afins ou a propriedades de agricultores da região que se destaque naquela cultura. Esta ação, chamada de Viagem de Estudo, permite aos alunos o contato direto com novas tecnologias, favorece a troca de experiências e possibilita opções diversas de culturas que podem ser implantadas em suas propriedades
Durante as duas semanas na propriedade, o jovem executa um Plano de Estudo, discutindo sua realidade com a família e sua comunidade; provoca reflexões, planeja soluções e realiza experiências.
Os monitores, formados em engenharia agronômica, responsáveis pela dinamização das atividades docentes e pela elaboração dos instrumentos metodológicos do Plano de Formação, acompanham os projetos produtivos nas propriedades de cada jovem por meio de visitas regulares durante o período de alternância. Por efeito demonstrativo, as experiências bem sucedidas são naturalmente disseminadas para as propriedades vizinhas.
Este processo resulta na melhoria da qualidade de vida das unidades-família dos Jovens e influencia diretamente as comunidades nas quais estão inseridas, gerando um efeito multiplicador dos conhecimentos adquiridos durante o período de formação.
A formação tem a duração de três anos, com carga horária de 4.600 horas/ano, subdivididas didaticamente em 45 Alternâncias Formativas tratando de temas diversos. Após a conclusão, os jovens saem com formação em Nível Técnico em Agronegócio Integrado ao Ensino Médio, prontos para atuarem em suas comunidades.
Recursos Necessários
Partindo da realidade atual da Casa Familiar Rural de Igrapiúna, em se pensando numa estrutura que comporte três turmas com aproximadamente 35 jovens cada uma, faz-se necessário dispor dos seguintes materiais/espaços: Propriedade rural de aproximadamente 20 ha, com facilidade de acesso, para implantação das Unidades Demonstrativas, onde serão executadas as aulas práticas e garantia alimentar na unidade; - Estrutura física adequada para abrigar os jovens, monitores, equipe e pedagógica; para tanto, faz-se necessários (sala de aula, refeitório, alojamentos masculino e feminino, biblioteca, sala de informática, auditório, sala para o administrativo/financeiro, salas para a equipe pedagógica, laboratório para pesquisa, depósito e, caso os profissionais residam distantes da sede, hospedarias masculinas e feminina, além disso, deve ser acrescentado: área de lazer e veículos para atender às demandas de visitas aos jovens e questões administrativas).
Resultados Alcançados
Em 11 anos de atuação no Baixo Sul da Bahia, a Casa Familiar Rural de Igrapiúna cumpre a missão de Formar filhos (as) de agricultores familiares, contribuindo no desenvolvimento de uma nova geração de empresários rurais com estimulo a adesão às associações rurais, cooperativas e outras formas de organização que possibilite a sua efetiva realização educacional e na atividade rural.
Inicialmente a instituição oferecia apenas o Curso de Qualificação Técnica em Agronegócio, 39 jovens foram formados nessa modalidade, porém, em 2013, o Conselho Estadual de Educação da Bahia, credenciou e Autorizou o funcionamento do Curso de Educação Profissional Técnica de Nível Médio em Agronegócio – Integrado em Ensino Médio.
Como reconhecimento do trabalho e do compromisso assumido para com a formação dos adolescentes/jovens, em 2011 a CFR-I foi incluída no Banco de Tecnologias Sociais da Fundação Banco do Brasil, quando na ocasião foi finalista do Prêmio FBB de Tecnologias Sociais.
Mais tarde, em 2012, a CFR-I conquistou o Prêmio do Instituto Telemar, o que proporcionou o apoio na formação dos jovens, principalmente na implantação de projetos produtivos tais como: hortas educativas, pupunha e seringueira.
A parceria com as Plantações Michelin da Bahia desde o início do projeto proporcionou que a sede da CFR-I funcionasse por cerca de 06 anos no espaço onde atualmente é o Centro de Estudos da Biodiversidade, espaço este que com o tempo tornou-se insuficiente diante das demandas. Neste contexto, o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Social – BNDES contribuiu para a ampliação e construção de novos espaços, concluídos em 2014, com estrutura mais propícia para acolher os discentes, contendo sala de aula, refeitório, alojamentos, sala de informática, auditório, espaço pedagógico e quadra poliesportiva.
Com o passar dos anos o projeto vem ganhando destaque e alcançando resultados que impactam direta e indiretamente na formação dos adolescentes/jovens. Em 2015 a CFR-I foi incluída no Programa das Escolas Associadas à UNESCO, conquista que fortalece a missão da instituição e oportuniza a conquista de novas parcerias. Um exemplo disso foi a seleção pelo Criança Esperança (2017), programa social da Rede Globo em conjunto com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
A CFR-I alcançou, em 2018 a marca de 215 jovens formados exercendo o protagonismo nas mais de 100 comunidades beneficiadas de nove municípios do Baixo Sul da Bahia e mais de 8 mil pessoas impactadas indiretamente por meio de ações multiplicadoras.
Dentre as ações desenvolvidas e que contribuem significativamente para a realização do jovem no campo estão os Projetos Educativos Produtivos. Consistem na implantação de área com cultivos regionais, visando promover a aplicação prática dos conhecimentos adquiridos, geração de renda e, ao mesmo tempo, servir como unidade demonstrativa para a comunidade. Mais de 350 projetos já foram implantados neste período.
Mais de 320 ações multiplicadoras foram desenvolvidas nas comunidades por meio dos adolescentes/jovens, abordando diversos temas, tais como: meio ambiente, segurança no trabalho, práticas agroecológicas e aspectos técnicos das culturas agrícolas regionais.
A adesão ao processo cooperativista alcançou mais 50 famílias ligadas diretamente à escola.
No mesmo ano a CFR-I passo a integrar o programa EcoEscolas, visa sensibilizar os estudantes para as questões do desenvolvimento sustentável, capacitando-os a realizarem a mudança que o nosso mundo necessita.
A cada ano a CFR-I abre processo seletivo para beneficiar novos adolescentes/jovens. São 35 vagas por ano para uma demanda que tem ultrapassado a marca de 300 inscritos nos últimos anos. O que revela a necessidade de ampliação da capacidade de atendimento aos adolescentes/jovens da zona rural do Baixo Sul da Bahia.
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