Problema Solucionado
A Tecnologia Social foi desenvolvida em Nísia Floresta/RN, cidade de base turística com 23 mil habitantes. O nome do município é uma homenagem a escritora nascida na cidade, considerada a primeira feminista da América Latina. Mas pouca gente conhece a sua história e seus ideais. Em Nísia apesar da existência de manifestações do patrimônio imaterial, o que predomina é a ausência de políticas de preservação e difusão da cultura local. O município não dispunha de equipamentos educativos e culturais como biblioteca, sala de cinema ou museus.
Na educação predomina práticas educativas tradicionais e a baixa qualidade do ensino. O turismo predatório contribui com o alto índice de vulnerabilidade de crianças, adolescentes e jovens.Nesse contexto foi criado o Museu Comunitário Nísia Floresta e são desenvolvidas ações de educação integral, respeito à diversidade e a equidade de gênero, valorização do patrimônio Imaterial, a Memória e Identidade.
A TS Museu Comunitário tem muito a contribuir em contextos em que é comum: 1) A existência da baixa qualidade de ensino, 2) Onde o patrimônio cultural, a memória e a história não são valorizados e 3) Existem situações de vulnerabilidade social
Descrição
Concepção da ideia
Historicamente os museus foram criados para preservar e difundir a história contada a partir da ótica das classes dominante. Por isso existem os museus que contam a história das guerras, do império, etc.
A proposta de museu trabalhada pelo CECOP - Centro de Documentação e Comunicação Popular, compreende que a história pode ser contada a partir de diferentes pontos de vistas e da realidade de diferentes atores sociais. Compreende que, o acesso à memória e a história são direitos de indivíduos, grupos e da comunidade.
Nesse sentido, os espaços de memória e museus comunitários são estratégicos na preservação e difusão de saberes, fazeres e documentos que registram os fatos a partir da ótica e interesses dos setores historicamente marginalizados.
Como se desenvolve a tecnologia
A Tecnologia Social do Museu Comunitário desenvolvida pela CECOP pode ser descrita em 03 etapas:1) Articulação e Mobilização, 2)Estruturação e funcionamento do Museu e 3)Sustentabilidade do processo e articulação de políticas públicas.
ETAPA 01 - Articulação e mobilização de grupos locais: Acontece através de pelo menos 04 estratégias:
Identificação de grupos e demandas: Articular grupos culturais locais, educadores e escolas públicas, identificando objetivos comuns que possam unir o interesse desses grupos.
Realização de oficinas técnicas e temáticas: Visam a formação técnica em determinados assuntos, linguagens, fornecendo conhecimentos e metodologias para qualificar a participação das pessoas.
Criação do Fórum de Cultura: Articulação institucional mais ampla necessária para fortalecer as demandas dos grupos. No fórum foi possível pactuar a necessidade de estruturação do Museu envolvendo outros setores e o poder público.
Elaboração de projetos e captação de recursos: Hora de transformar o sonho numa proposta concreta. É necessário elaborar um projeto, visando a formatação da ideia do museu, instrumento de captação de recursos para viabiliza-lo.
Na etapa de execução técnica do projeto a participação de grupos organizados acontece através da coleta de materiais e acervo, produção de conteúdos fotográficos e audiovisuais, etc.
ETAPA 02 - Funcionamento do Museu:
Ocorre através da oferta de uma série de ações e atividades educativas e culturais voltadas para os alunos das escolas públicas, grupos culturais e a comunidade, com o acompanhamento dos educadores do Museu, professores das escolas e mestres (as) da cultura. Entre as atividades desenvolvidas semanalmente podemos citar:
As visitas orientadas: Permitem que os alunos, mediados pelos educadores do Museu, conheçam aspectos relevantes da vida e obra da escritora e primeira feminista do Brasil, Nísia Floresta.
Exibições e debates de filmes: Semanalmente são exibidos filmes nacionais e locais de curta metragem. Após as exibições são realizadas discussões sobre os conteúdos dos filmes, com a mediação dos educadores da escola e do Museu.
Rodas de Leitura e Contação de Histórias:Visam estimular de forma lúdica e interativa a imaginação das crianças e o gosto pelo livro.
Oficinas de Saberes: Visam construir espaços de vivência e trocas de conhecimentos entre os mestres(as) da cultura popular, educadores e alunos das escolas públicas. Nessa ação as crianças e adolescentes conhecem e aprendem a história e o significado das manifestações populares.
Oficinas de Fotografia e audiovisual: Trabalham a técnica da linguagem fotográfica e do audiovisual e capacitam para que os atores locais a usarem essa ferramentas.
Documentação e Difusão do Patrimônio Imaterial: Resultado da oficina de fotografia e audiovisual, essas produções dos alunos e agentes culturais se transformam em produtos como exposições fotográficas, mostras de filmes, etc.
Oficinas de brinquedos populares e xilogravuras: Desenvolvem a criatividade das crianças/adolescentes através do estímulo a fabricação de brinquedos tradicionais e da produção da técnica da xilogravura.
ETAPA 03: Sustentabilidade do processo/ articulação de políticas públicas.
Ampliação de parcerias: É necessário manter as parcerias existentes e buscar outras junto a universidades, secretarias estaduais e municipais, igrejas comprometidas com a organização popular, empresários do comercio local, etc.
Construção de uma gestão compartilhada: Criação de espaços democráticos de participação e decisão que incorpore parceiros estratégicos, em conselhos consultivos, gestão compartilhada, envolvendo se possível o poder público.
Criação de canais de comunicação: É imprescindível a criação de canais de comunicação com o público interno e externo ao museu, explorando principalmente as redes sociais.
Plano de Sustentação financeira: São necessárias ações integradas: elaboração de novos projetos, organização de grupo de colaboradores, lojinha de produtos, campanhas periódicas, etc.
Discussão de políticas públicas: Propor ao poder público políticas de apoio à cultura e a implementação do sistema municipal de cultura.
Recursos Necessários
Para implantar uma unidade da Tecnologia Social Museu Comunitário será necessário: Espaço físico na comunidade para estruturação e funcionamento do espaço de memória, mobiliário de escritório, expositores, iluminação adequada as atividades dos espaços, cadeiras para salas de reuniões e de cinema, equipamentos de projeção de imagem e som, acervo de livros infantis, quadrinhos e literatura de cordel, equipamentos fotográficos e de produção audiovisual, computadores e acesso à internet.
Resultados Alcançados
Um primeiro resultado: Foi possível, a partir da iniciativa de uma organização do terceiro setor e de um processo de articulação e mobilização popular, estruturar um espaço de memória, organizado e gerido com a participação comunitária.
Com implantação do museu, a vida e obra de uma (01) escritora, Nísia Floresta, bem como os seus ideais, (direitos das mulheres, negros, crianças...) estão mais difundidos junto à população do município e alunos das escolas públicas.
As atividades oferecidas semanalmente possibilitam às crianças, adolescentes e jovens acesso aos bens culturais e aos meios de produzi-los. As capacitações (fotografia, patrimônio imaterial, danças populares, etc), têm assegurado que o público do museu comunitário seja protagonista das ações e atuem como novos agentes culturais do município.
O Patrimônio Imaterial tem sido documentado e difundido. Com as Oficinas de Saberes, mestres(as) e grupos populares compartilham seus conhecimentos e práticas com outros grupos e as escolas públicas. A cultura popular e a organização comunitária estão mais fortalecidas e encontram no museu uma base de apoio. Alunos das escolas públicas têm tido acesso a essas manifestações, passando a conhecê-las e valorizá-las.
Com o trabalho realizado pelo museu junto a outras organizações comunitárias, o grupo Coco de Roda concorreu e ganhou em 2013 o Prêmio Culturas Populares do Ministério da Cultura. Com o prêmio o grupo pôde adquirir novos instrumentos musicais, figurinos e participar de eventos locais e regionais, se fortalecendo como organização cultural.
04 Séries de audiovisual, 02 Séries de cartões postais e 05 exposições foram produzidas e lançadas com a participação de alunos e professores, contribuindo com a difusão do patrimônio imaterial. O trabalho resultou na implantação de 01 Ponto de Memória sobre os mestres(as) da cultura popular no município.
Outros resultados: Melhoria do processo ensino aprendizagem, fortalecimento das ações educativas inovadoras nas escolas e a maior integração dos processos educativos com a cultura. As escolas passaram a valorizar a memória e histórias locais e a ter maior envolvimento com a realidade do seu entorno. Esses avanços trouxeram maior compreensão das práticas de educação integral e a necessidade de sua implantação nas escolas.
O museu comunitário passou a ser uma referência para as áreas da educação, cultura e do turismo local e tem sido um interlocutor para a discussão de políticas públicas no município.
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