Problema Solucionado
A área de atuação deste projeto, o assentamento Tarumã-Mirim, faz parte do Território da Cidadania de Manaus, região com sérios problemas sociais e com grande relevância ecológica, inserida na microbacia do rio Negro. Fazem parte desta área ecossistemas ameaçados, como a floresta tropical densa, tropical aberta e de igapó. Também existem na área duas unidades de conservação (UCs), inseridas no Corredor Ecológico Central da Amazônia, maior área de proteção ambiental contínua do mundo.
Os principais problemas identificados são a produção ilegal de carvão vegetal (a partir da mata nativa e capoeiras), exploração inadequada de madeira e prática da agropecuária sem orientação técnica. Segundo o Ibama, 12% da floresta da região já foi tombada (cerca de 4.500 hectares). Pelo menos duas toneladas de carvão são retiradas por semana e vendidas a preços até 400% mais baixos do que em Manaus. Grande esforço físico, radiação solar excessiva, calor emitido pelos fornos e a inalação de substâncias químicas são algumas das condições de trabalho presentes na região, além da questão do trabalho infantil. A atividade carvoeira causa poluição, lançando na atmosfera toneladas de compostos químicos.
Descrição
Após uma análise sobre a realidade da região onde o projeto foi implementado, foram identificadas algumas questões a serem trabalhadas: os problemas a serem resolvidos, as prioridades existentes, as espécies passíveis de plantio (considerando as características da área, meios de transporte e distância do mercado consumidor), as práticas adequadas de manejo, a disponibilidade de mão de obra no local, os planos para cada propriedade agrícola (em curto, médio e longo prazo) e as possibilidades para construção de alternativas agroflorestais e não agroflorestais.
As partir destas informações foi iniciado um processo de capacitação dos carvoeiros para que se tornassem agricultores, com a realização de mutirões de plantio de hortaliças. O grupo escolheu produzir hortaliças porque seu consumo aumentou devido à busca por uma dieta alimentar mais rica e saudável. Com mercado garantido, essa alternativa seria capaz de gerar trabalho e renda, contribuindo com a segurança alimentar e preservação do meio ambiente.
A produção de hortaliças passou a ser o carro-chefe das propriedades agrícolas. Paralelo a isso, as áreas que foram desmatadas para produção de carvão e itens agrícolas foram reabilitadas pela implantação de sistemas agroflorestais, com árvores frutíferas e espécies madeiráveis. Foram identificadas áreas mais frágeis e passíveis de degradação (os remanescentes de matas), as em conflito com a legislação ambiental e as com manejos atuais inadequados, espaços para os quais foram indicadas a substituição das atividades praticadas ou a adoção de práticas conservacionistas.
As hortaliças semeadas são as seguintes: alface, brócolis, couve-flor, temperos (cebolinha verde, coentro, orégano), chicória, feijão-vagem, rúcula, pimentão e pimenta.
As espécies frutíferas e florestais cultivadas são: castanha-do-brasil, andiroba, rambotã, cupuaçu, tucumã, pupunha, café, ingá, laranja, guaraná, banana, pau rosa e ingá. A maior parte das espécies escolhidas, além de grande importância na dieta básica das famílias, possui outras utilidades como uso medicinal, em ração animal, madeira, etc.
Recursos Necessários
Para as hortaliças são necessárias sementes, adubos e muita água disponível.
Para o sistema agroflorestal são necessárias mudas de plantas frutíferas e madeireiras, calcário, adubos e sementes.
Esta tecnologia busca trabalhar a propriedade agrícola como um todo, tornando toda a área sustentável e não apenas uma parte dela.
Resultados Alcançados
São 60 famílias trabalhando com hortaliças, em três comunidades. A tecnologia implantada permitiu a melhoria na renda mensal das famílias na ordem de 54,26% em relação à atividade insalubre antes realizada. Após a eliminação da figura do atravessador, verificou-se um aumento na renda semanal na ordem de 25%.
A formalização da associação trouxe benefícios, como a disponibilização, pela SEPROR (governo estadual), de um caminhão e de um ônibus adaptado para escoamento da produção (semanalmente), além do asfaltamento da vicinal principal.
A conquista de pontos em feiras ocorreu através de articulações feitas pelos próprios associados. A feira de orgânicos, do Ministério da Agricultura, foi o mercado mais recente conquistado pelo grupo.
A realização da I Feira de Produtos da Agricultura Familiar, organizada pela ASSAGRIR em setembro de 2010, foi um evento histórico no assentamento. Estima-se que mais de 1.500 pessoas visitaram a feira. A comunidade já começou a preparação para a II Feira, evento que acontecerá em setembro de 2011. A estimativa para esse evento é de mais de quatro mil visitantes nos quatro dias de feira.
Outro ponto importante observado foi o fato de 40% dos associados possuírem idade acima de 50 anos, fator que implica, portanto, na possibilidade de uma ocupação laboral para esta faixa etária, o que não é oferecido com frequência pelo mercado de trabalho local. A média de pessoas envolvidas apenas na atividade de hortaliças é 2,33 por família. Estas ações contribuem com a redução do ritmo da migração campo-cidade.
- Melhoria e diversificação da dieta alimentar das famílias;
- O desmatamento evitado pela mudança de estrutura de produção ficou na ordem de 90 ha por ano;
- A área com reflorestamento (plantios agroflorestais) possui, em média, um hectare por família. Esses plantios estão sendo realizados aos poucos, conforme nossa capacidade de mão de obra. São mais de 40 propriedades com áreas em recuperação;
- O volume comercializado, em 2010, foi na ordem R$ 216 mil, com perspectivas de aumento para 2011/2012, com apoio às outras associações do assentamento;
- Mais de 200 agricultores capacitados em tecnologias sociais, com um papel fundamental reservado para inserção das mulheres.
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